Apartamento 304
Era o tipo de prédio para o qual você não olharia duas vezes. Difícil de achar por ser muito comum, tão bem inserido à paisagem que parecia ter sido plantado. Ou seja, feito pra mim.
Cheguei lá meio por acaso, numa dessas coincidências de filme. Estava procurando apartamento e entrei numa rua errada. Dobrei a esquina e o prédio pareceu brotar a minha frente. Poucos apartamentos, arborizado, garagem à sombra. Incrivelmente do jeito que eu queria.
Estacionei o meu arremedo de carro na portaria e chamei por alguns instantes. Nada. Deserto, como ficam alguns prédios em dia de domingo. Mas eu não desistiria fácil assim. Aproveitei pra dar uma olhada mais de perto. Chamei ainda por alguns instantes, mas nada. Testei o portão. Destrancado. Abri-o e fui entrando.
O lugar era muito mais lindo de perto. Tinha a beleza dos prédios novos, aquele clima de cidade cenográfica. Coloquei as mãos nos bolsos e fiquei admirando por alguns instantes a vista. Janelas perfeitas, algumas até com delicados vasos de plantas, sem roupas dependuradas. Tudo parecia se harmonizar. Talvez um pouco demais até.
Prédios novos. Aquilo não duraria muito. Logo viriam as chuvas, as crianças, os cachorros, as pessoas. Mas no momento era perfeito. Milimetricamente perfeito.
De repente, a janela do apartamento do meio se abriu. Surge então uma moça de cabelos amarelos. Linda. Incrivelmente perfeita. E retira o vaso. Não me viu. Retira o vaso e coloca outro no lugar. A cor do vaso colocado combinou ainda mais com o prédio.
Lentamente a coincidência vai se transformando numa obsessão. Eu precisava arrumar um apartamento ali. Precisava falar com alguém. Devia haver algum desocupado; teria que haver algum desocupado.
Escuto o barulho de um carro estacionando. Ao lado do meu. Um pequeno e muito bem acabado carro verde. Nunca tinha visto um modelo daqueles. Talvez seja europeu. A porta se abre e desce do carro um homem de terno marrom. Realmente impecável. Vem até mim sorrindo. Ele anda de uma forma esquisita. Rígida. Algum problema nas articulações, provavelmente.
Ele se aproxima e pergunta se eu gostei do que vi. Tento não demonstrar muito interesse. Sei como são os vendedores. Mas bastou ele me olhar pra perceber que eu mentia. O desejo de morar ali escorria dos meus olhos.
O homem de terno marrom impecável continua sorrindo. Na verdade ele não parou de sorrir desde que chegou. Vendedores...Mais uma vez pergunta se eu tenho mesmo certeza sobre o apartamento. Respondo que sim. Ainda sorrindo, me dá as costas e vai embora, caminhando em direção ao carro verde. Confuso, pergunto se terei de esperar muito, dar alguma prestação de entrada, algo assim. Ele responde que o apartamento já é meu. O de cima. Como eu gosto. E continua andando daquele jeito estranho. Grito-lhe perguntando quando poderei me mudar. Ele, sem olhar pra trás, me responde que eu já me mudei.
Como numa ensaiada propaganda de televisão, pessoas surgem de dentro do prédio. Inúmeras. As janelas se abrem, a vida começa. Pessoas rígidas e coloridas como o vendedor. Perfeitas como o prédio, as árvores, a garagem, os vasos. Tento falar, mas a minha garganta não produz nenhum som. Movimento-me um pouco, com dificuldade, até a avalanche de pessoas. Rígidas e coloridas, como eu.
Eu não pude notar, mas, do lado de fora do prédio acontece uma festa. Um lançamento de um condomínio fechado. Um lugar aconchegante, mas de última geração. Poucos lotes, muitos interessados. Um condomínio fechado representando em cada um de seus detalhes, cachorros, carros, pessoas, por uma maquete. Rígida e colorida. Perfeita.
Cheguei lá meio por acaso, numa dessas coincidências de filme. Estava procurando apartamento e entrei numa rua errada. Dobrei a esquina e o prédio pareceu brotar a minha frente. Poucos apartamentos, arborizado, garagem à sombra. Incrivelmente do jeito que eu queria.
Estacionei o meu arremedo de carro na portaria e chamei por alguns instantes. Nada. Deserto, como ficam alguns prédios em dia de domingo. Mas eu não desistiria fácil assim. Aproveitei pra dar uma olhada mais de perto. Chamei ainda por alguns instantes, mas nada. Testei o portão. Destrancado. Abri-o e fui entrando.
O lugar era muito mais lindo de perto. Tinha a beleza dos prédios novos, aquele clima de cidade cenográfica. Coloquei as mãos nos bolsos e fiquei admirando por alguns instantes a vista. Janelas perfeitas, algumas até com delicados vasos de plantas, sem roupas dependuradas. Tudo parecia se harmonizar. Talvez um pouco demais até.
Prédios novos. Aquilo não duraria muito. Logo viriam as chuvas, as crianças, os cachorros, as pessoas. Mas no momento era perfeito. Milimetricamente perfeito.
De repente, a janela do apartamento do meio se abriu. Surge então uma moça de cabelos amarelos. Linda. Incrivelmente perfeita. E retira o vaso. Não me viu. Retira o vaso e coloca outro no lugar. A cor do vaso colocado combinou ainda mais com o prédio.
Lentamente a coincidência vai se transformando numa obsessão. Eu precisava arrumar um apartamento ali. Precisava falar com alguém. Devia haver algum desocupado; teria que haver algum desocupado.
Escuto o barulho de um carro estacionando. Ao lado do meu. Um pequeno e muito bem acabado carro verde. Nunca tinha visto um modelo daqueles. Talvez seja europeu. A porta se abre e desce do carro um homem de terno marrom. Realmente impecável. Vem até mim sorrindo. Ele anda de uma forma esquisita. Rígida. Algum problema nas articulações, provavelmente.
Ele se aproxima e pergunta se eu gostei do que vi. Tento não demonstrar muito interesse. Sei como são os vendedores. Mas bastou ele me olhar pra perceber que eu mentia. O desejo de morar ali escorria dos meus olhos.
O homem de terno marrom impecável continua sorrindo. Na verdade ele não parou de sorrir desde que chegou. Vendedores...Mais uma vez pergunta se eu tenho mesmo certeza sobre o apartamento. Respondo que sim. Ainda sorrindo, me dá as costas e vai embora, caminhando em direção ao carro verde. Confuso, pergunto se terei de esperar muito, dar alguma prestação de entrada, algo assim. Ele responde que o apartamento já é meu. O de cima. Como eu gosto. E continua andando daquele jeito estranho. Grito-lhe perguntando quando poderei me mudar. Ele, sem olhar pra trás, me responde que eu já me mudei.
Como numa ensaiada propaganda de televisão, pessoas surgem de dentro do prédio. Inúmeras. As janelas se abrem, a vida começa. Pessoas rígidas e coloridas como o vendedor. Perfeitas como o prédio, as árvores, a garagem, os vasos. Tento falar, mas a minha garganta não produz nenhum som. Movimento-me um pouco, com dificuldade, até a avalanche de pessoas. Rígidas e coloridas, como eu.
Eu não pude notar, mas, do lado de fora do prédio acontece uma festa. Um lançamento de um condomínio fechado. Um lugar aconchegante, mas de última geração. Poucos lotes, muitos interessados. Um condomínio fechado representando em cada um de seus detalhes, cachorros, carros, pessoas, por uma maquete. Rígida e colorida. Perfeita.
8 Comments:
Um texto de Mestre para um MBA em Maqueting. Abração.
ô vidinha de plástico!
Essa eu entendi! Aff...graças a Deus! Acho que o sono ainda não tomou conta de mim. Bom, vejamos. Barbie girl saiu com o Bob/Ken e deixou um recado pra vc: "Come on Márcio, let's go party!" Hahahahahah!
Parece aquele Show de Truman! Tá doido!
Vc descreveu, exatamente, como é a vida nesta maquete chamada Brasília. Beijos
Pin & Guim mandam-lhe um feliz 2020. De Natal é vc. quem entende, pô! Abração, Márcio.
imaginação viaja quando de frente ao objeto de desejo..
muitas vezes até o cheirinho sentimos.
FELIZ NATAL meu querido!!!
beijossssssssssss
passando pra saber como foi de natal e desejar lindo dia!!!!
beijossssssssssssss
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