Nove meses
A mulher esfregava nervosamente a base do último cigarro do maço. Olhava o relógio e esperava, enquanto a criança chorava no quarto. Jogou fora as cinzas.Cinco minutos. Faltavam apenas cinco minutos para a chegada que não foi prometida. Apenas suposta. Uma presença que só existia realmente na sua esperança.
Relembrou a quinta-feira. Exatos nove meses atrás. Chovia muito. Os bueiros entupiram e ela tinha dormido mal. Foi atravessar a rua larga e esbarrou em alguém, que caiu no chão. Uma mendiga. Ela levantou-se e olhou a criatura. Sentiu um imenso desprezo. É interessante como este tipo de sentimento reflete-se no olhar com tamanha facilidade, arrependeu-se agora. A mendiga também a olhou do chão. Não com desprezo. Mas com raiva. Raiva. Pareceu sorrir quando notou a gravidez. Apoiou-se rapidamente na saia do seu vestido e antes que a mulher pudesse reagir, levantou-se, tocando a mão espalmada na barriga protuberante. E falou. No princípio parecia alguma palavra feia. Agora, ela preferia que realmente fosse. Preferia qualquer coisa. Assustada, empurrou a velha, que sumiu tão depressa como apareceu. Permaneceu ainda um pouco parada, na chuva, tentando entender o que acontecera. Procurando não acreditar no que já sabia.
Tudo aconteceu tão rápido. Se ela tivesse ficado em casa naquele dia. Se não tivesse esbarrado na velha...
Tornou-se um caso raro. Os médicos podiam ouvir o bebê. Mas não conseguiam vê-lo. Tentavam acalmá-la dizendo que a criança estava bem. Estava tudo bem. Marcaram o dia do parto, e ela andava nervosa. Terrivelmente nervosa.
A sala foi preparada. Seu marido decidiu acompanhar o nascimento e segurou-lhe a mão. Ela sorriu, virando a cabeça na direção da porta envidraçada. Foi então que viu a velha mendiga. Rindo. E gritou. Foi sedada, só acordando com o choro do bebê. "Ele está bem?" - perguntou."O meu filho está bem?". Sério e pálido, assim como toda a equipe, o médico respondeu hesitante: "Está". A última coisa que se lembra foi da criança lhe sendo entregue.
Faltavam dois minutos. O menino dormia. Ela sonhara a noite toda com a mendiga. A cena se repetia com a crueldade e a sensação de impotência de todos os pesadelos. Mas da última vez foi diferente. A velha dizia-lhe algo. Falava sobre uma saída. Um remédio. Na hora certa. Faltava apenas um minuto. Ela pegou o menino no colo e o balançou. "Ela virá" - pensou, enquanto cantarolava para que ele voltasse a dormir. "Ela virá".
16 Comments:
Alguns dos seus contos parecem capítulos de histórias mais longas. Talvez a maioria deles.
Este tem clima, gera suspense, mas desta vez, senti que faltou alguma coisa.
Por que você não experimenta mandar alguns textos para o Círculo de Crônicas? Creio que serão bem recebidos.
Agora o moço está escrevendo trillers. A tensão permanece da primeira à última linha. Excelente.
Abrs.
Há 10 anos? Mesmo? Devo supor que você era um adolescente quando o escreveu?
Pode ser preguiça mental minha, mas te imagino da minha idade, mais ou menos (25).
Acertei. E o signo também é o mesmo.
"The hoooorrrrrooooooorrrr"...
Algo do tipo bb de Rosemari?
Muito bom desde o principio até o fim, será mesmo o fim?
beijossssssssss
gente!!! acho que dá para usar na minah aula de psicopalogia
Uau!!!
Um conto grávido de cinema, suspenso no ar, suspense noir...
Pura nostalgia que embala o ser.
:)
own amigo, me deixou de cara ó. ainda procuro algo que não achei entre as linhas. nem me ligou ontem... hj tem a palestra de início do curso. é aberto ao público, será no Teatro de Cultura Popular. Apareça. eu sei que voc~e não fará nada às 19h. kkkkkk
jogue-me suas trancas, rapunzel..
safada.
b.
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