Sentença
Em cima da folha de papel, partiu-se a ponta do lápis. Já não tão dono de si, o homem esticou por uns instantes as juntas dos dedos e gemeu. Há quanto tempo escrevia? Duas semanas? Dois meses?
Dois anos.
Surpreso e assustado, jogou o que sobrou do lápis preto número dois na montanha de lápis pretos números dois empilhada perto da mesa e respirou fundo. Por uns instantes, repousou seu olhar numa outra montanha aportada ao lado. Papéis. Inúmeros. Palavras, letras, frase, sentenças corretas, corretíssimas, já escorriam das folhas de cadernos, dos sacos de pão e de supermercado, das roupas, e, sorrateiras, percorriam cada centímetro daquelas paredes um dia tão brancas, meu Deus.
“Escreva”.- pediram-lhe.
E ele obedeceu. Catou na prateleira inteiramente caligrafada um novo lápis preto número dois novo e apontou-o.
Mas, onde? As letras dominaram até os recantos mais esquecidos do apartamento: escondidas nos rodapés e deitadas sobre as camas, já começavam mesmo a serpentear pra fora das portas...
“Escreva”.– ordenaram-lhe.
O homem então, já sem amigos, emprego ou mulher, sentou-se na mesa, e mais uma vez ligou a lâmpada, arregaçando a manga da camisa.
Por fim sorriu, realizado, ao desenhar na pele virgem do seu antebraço um perfeito e sangrento “A”.
19 Comments:
o 'a' nao seria na testa?
de capitao america?
haha
Será esse o destino de todos nós que escrevemos? A literatura-loucura, sem amigos, emprego, amor outro que não o ingrato amor das letras?
Peço que não!
Um texto muito bem escrito, que dá um certo arrepio de horror. Horror íntimo...
Obrigada por suas visitas ao Demo Sentado em Meu Ombro. Você está mesmo acompanhanho minha novelinha bizarra?
Por curiosidade, eu poderia saber como você achou meu blog?
Grande abraço.
Pô, Márcio. Eu escrevo há dois anos, também. Por sorte, meu computador tem um HD de 40Giga. Mas sua metáfora é excelente. "A" para esse texto também. Abraço.
Será o começo de uma longa história escrita literalmente com sangue.
beijossssssssss
Assustador.
Rapaz: a novelinha do Demo é transmitida toda sexta-feira. É de não perder.
Se quiser, fique à vontade pra fazer análise, jogar pedra, jogar flor. A vidraça é boa.
Gostei do seu blog, e isso você já sentiu de todos os jeitos que eu posso demonstrar virtualmente. Divulguei. O "cara bem chato" aí em cima, vulgo Richard Diegues, é amigo meu.
E aí, vamos nos linkar?
Amigo
Animal
Assustador
Aviltante
Apertado coração
Amargo na boca
Não pare jamais.
Ufa! Consegui colocar seu link! Boa noite!!
Ei menino...
Me lembrou o filme " Contos Proibidos do Marquês de Sade". Em um momento, sem material para escrever, ele preenche com sangue todas as paredes de sua cela.
Bjos
Me lembrou "Calíope", de Neil Gaiman.
Hi! Just want to say what a nice site. Bye, see you soon.
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Marcio,
Quanto talento! Parabéns! É de faltar o ar...
Adoro contos como esse.
Abraços
Fernando Ferric
Contos Malditos de Fernando Ferric
Marcio,
Quanto talento! Parabéns! É de faltar o ar...
Adoro contos como esse.
Abraços
Fernando Ferric
Contos Malditos de Fernando Ferric
Quando eu disse que o inferno era feito de papel e não de fogo, não era bem isso que eu tinha imaginado... você pintou uma imagem beeeem pior! De tão angustiante, esse texto tá ótimo!
Esse foi sinistro! A de quê, hein?
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Great site loved it alot, will come back and visit again.
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