Sunday, October 15, 2006

À deriva


Hoje contava cinco dias de mar aberto. Cinco dias sem água ou comida, navegando a esmo por um oceano de um azul quase obsceno. Já não tinha forças para se mover ou falar; mesmo o pensamento se arrastava, moribundo.

A fraqueza do corpo lhes roubara a memória do naufrágio. Tudo que restava era um esgarçado desejo de sobreviver.

Embaixo dele, os destroços da madeira rasgavam-lhe novas feridas na pele.

Soçobrava, em um mar misericordiosamente tranqüilo.

Foi quando aconteceu.

Como numa praga bíblica, a onda ergueu-se do nada e sumiu com o que restava dos destroços, lavando-lhe a solitária esperança de náufrago.

Arrastado pela força daquela água irremediavelmente azul, assombrou-se ao sentir a firme transparência do vidro.

Do lado de fora da garrafa, um par de mãos sacudia a água, senhor absoluto daquela pequena vida.

15 Comments:

Anonymous Anonymous said...

pelamordedeus continua essa. Adorei, mas segue adiante me deu vontade de saber mais dessa realismo fantástico ou não?
bj Henrique

5:15 AM  
Anonymous Anonymous said...

Acho que era isso o que você queria dizer como "efeito elevador". Tem novo conto brega por lá.

7:14 AM  
Anonymous Anonymous said...

diferente do que você vem fazendo! Gostei muito! Deixa um gostinho de quero mais!
Abraço

6:15 PM  
Anonymous Anonymous said...

Nem sempre "resguardados" pela fortaleza transparente,mas sempre nas mãos de alguém.
Taí, nesse respiro aliviada...
beijosssssssssss

2:50 PM  
Anonymous Anonymous said...

Eis que um Liliputiano é resgatado com sucesso!

Abraços.

10:35 AM  
Anonymous Anonymous said...

Putz, vou tomar um dramim e voltar para mais um pouco....

6:50 PM  
Blogger UmZé said...

Fala, meu camarada.
Sempre que quero ler alguma coisa boa venho te visitar. Abração.

9:16 AM  
Blogger Chica said...

hômi, vamo fazer dinheiro!!! uahahahahhahahahahha!!!!! massa esse. vi uma animação todinha na minha frente! assim você me mata! xêro com cheiro de azaléia. Smack!

9:55 AM  
Anonymous Anonymous said...

Preciso de férias...

São Paulo tem me feito trabalhar...

Não tava acostumada...

Aaaaaaaaaaaiiiiiiii passa logo outubro...novembro...

Vem dezembro...meu último suspiro...

1:11 PM  
Blogger b.ponto said...

sao os lactobacilos.
vivos.

7:23 AM  
Anonymous Anonymous said...

Rapaz...fazia tempo qeu eu não passava aqui...e já me arrependi...essas mais curtas são mais "puxadoras de tapete" ainda...incrivel! Bom te ler de novo...sem contar que sempre tentei usar o verbo "soçobrar" e nunca consegui...hahahaha
Bom, também andei postando...se der, passa lá. Beijo grande.
PS: O que pretendes para o feriadão?

7:40 PM  
Blogger Unknown said...

Belo conto, os demais escritos trambém são interessantes. Vim aquí por indicação do Sr. Druhens, preciso agradecer-lhe. Tenho fascínio por naufrágios. Parece que tudo pode ser reduzido, entre outras muitas possíveis reduções, à relação continente-conteúdo. A percepção da liberdade no naufrágil pode ser convenientemente substituída pela segurança de estar contido. Escolha sua catástrofe. De qualquer forma podemos testar a solidez de nossos limites espatifando o vidro, mas aí é a loucura do mar sem fim. Não gosto de Nelson Rodrigues mas Ruy Castro é irretocával. Parabéns pelo blog. Grande abraço!

3:38 PM  
Anonymous Anonymous said...

lindo texto!

7:35 PM  
Blogger Barbara said...

E eu ainda não descobri como fazem pra colocar aquelas caravelinhas dentro das garrafas...

4:35 PM  
Anonymous Anonymous said...

Está demorando pra botar conto novo. quando será o próximo?

7:02 AM  

Post a Comment

<< Home