Thursday, January 19, 2006

Um último desejo


A mocinha, deitada na cama, vestia apenas um lençol branco. Loira e desesperadoramente bonita, esfregava o dedão do pé na fivela do cinto dele.

- Mas você não tem medo de morrer?

O homem, ajoelhado em cima da cama, em frente a ela, deu uma rápida olhada pra si mesmo pelo espelho do motel. Só então.

- Já tive muito, no começo, quando tava no meio dum serviço qualquer. Agora tenho mais não. Eu...

Ele fica calado, e engole a última frase num sorriso. A mocinha percebe.

- Você...
- Esquece, é besteira.

Ela então passa a esfregar, com firmeza, seu calcanhar no meio das coxas dele. Logo abaixo da fivela do cinto.

- Vai dizer não?
- Se todo interrogatório fosse assim....Era uma bobagem, esquece.

Mas ela não pára.

- Eu ia dizer que acho que já vivi até demais. Pra minha...profissão, sei lá.
- Profissão sei lá? – ela pergunta, num sorriso sarcástico.
- Eu tenho problema em chamar isso de profissão.
- Por quê?
-Sei não. Coisa de família...
- Sua mãe também tinha era? Ou seu pai?

Ele se levanta, não responde. Só vai até a bancada e pega a carteira de cigarros. Acende dois. Leva um, preso nos dedos, até os lábios dela. Ela o empurra, com as mãos, numa careta de nojo.

- Brigada, mas deixei de fumar. Você devia também...Isso mata.
- Pois é. Por isso que fumo.

Cai então uma chuva, de repente. Ela, deitada de costas na cama, vira o pescoço e consegue ver a imagem dele, entrecortada pelo neon da farmácia.

- Já notou que a gente não tem mais quase noite? É tanta luz, tanto... – ele dá um trago longo. -...tanta...
- As pessoas andam com medo do escuro.- ela fala, num tom infantil. – Você tava me dizendo da sua profissão.
- Deixa pra lá.
- A gente ainda tem quase uma hora.
- Vou deixar de crédito. Preciso ir embora.
- Prum serviço?
- Talvez.
- Pode falar não?

Ela se vira e fica de bruços na cama. Tira o lençol. Ele, se encosta na janela e sente os pingos de chuva descendo pelas costas, até entrarem dentro da calça, molhando-lhe a bunda. Quase ri.

- Continua o que tava me dizendo. – a moça pede, olhando-o bem nos olhos.
-Eu te disse uma porção de coisas.
- Você disse que achava que tinha vivido demais já. Que era hora de morrer e talz.
- E já vivi mesmo.
- Isso é papo de velho, idoso mesmo. Eu conheço, já fudi com vários. A gente não faz nada. O pau deles é meio como uma noz.

Ela ri um pouco, depois, balança a cabeça, como se espantando a lembrança.

- Tá me chamando de velho...De velho com pau pequeno?
- Nunca! Quem sou eu?

Ele a olha como se respondesse.

- Mas você me disse que queria estar morto. – ela insiste.
- Não é bem um querer, mas acho que não me importaria se estivesse. Não agora. Eu tinha tanta sede, tanta...vontade de experimentar a vida. Mas já fiz muito. Tudo foi ficando só arriscado, muito sem...
- Pois eu te digo que posso ajudar.

Ele franze a testa, confuso.

- Me ajudar?
- Na verdade, é esse o meu trabalho. Ajudar.

Ela sorriu, e perdeu, rapidamente, todo o brilho nos olhos. Agora era como uma boneca de supermercado.

- E como...?
- Peça. Feche o olho e peça pra estar morto. Fica mais fácil pra mim.

Ele sorriu e fechou os olhos por um minuto antes de puxar a arma com silenciador, guardada ao lado dos cigarros, atingindo a moça bem no meio dos olhos de vidro.

Bem que lhe avisaram. O alvo daquela noite era meio fraco do juízo.

14 Comments:

Blogger b.ponto said...

faaaaaaaaaala marciao.
adoro esse jogo sexual...
e quem nao gosta de matar a parceria, nem que seja de tanto tesao???
adorei...
desculpa a ausencia... to numa fase complicada e ausente.
mas volto em fevereiro com forca total. me aguarde...

abraco enorme e continue firme.
ta cada vez melhor.

me passe seu e-mail novamente... pode ser pelo blog.

5:30 AM  
Anonymous Anonymous said...

so se vc passar la em casa tbem, pelo menos de vez em quando...

cara, de onde vc é??? estou enganada ou é de Natal mesmo?????

puta merda, se eu disser que eu morava ai, perto da praia de ponta negra, conhece????
e vc de onde é?
beijos, e me conta viu?????

7:17 AM  
Anonymous Anonymous said...

A pequena morte com requintes rodrigueanos. Acho que seria muito mais fácil para nós se ela simplesmente aceitassem esse desejo irrefreável. Tem morte lá no TNN tbm. Abração blogreneiro. Põe um link aí caramba. Vamos encher nossa segunda casa homi!

8:19 AM  
Anonymous Anonymous said...

Ó Cruel Matador, coitada da pobrezinha, até que ela estava indo bem, pô! :)

Aos poucos, vou voltando.

Marcio, meu grande abraço.

11:03 AM  
Anonymous Anonymous said...

Djabo é dez...e eu pensando que o cara quem ia se jogar pela janela em busca da luz de neon...hahahaha.
Só tu mesmo...vareith!
Hahahaha!
Beijo

9:32 PM  
Anonymous Anonymous said...

vc só pecou numa coisa: não é noz, é cenoura de geladeira. às vezes eu tenho medo de andar com tu sabia? a qualquer momento, sei lá, vai que vc puxa uma faca...

4:31 AM  
Anonymous Anonymous said...

esse comentário aí de cima fui eu. kkkkkkkkkkkkkkk acabei de perceber que o alcool ainda está pela minha cabeça, é, ontem foi massa.....

vc me entende.

4:33 AM  
Anonymous Anonymous said...

bacana. vou linkar lá no blog. abraço.

5:28 AM  
Blogger Marina said...

Gostei daqui.
Ótimo texto... ;)

11:13 PM  
Anonymous Anonymous said...

vc conheçe o castelo da bruxinha???
minha mão mora la pertinho!

3:38 AM  
Anonymous Anonymous said...

isso mesmo, eu conheço la. a ultima vez que estive ai foi no inicio de 2003...

5:54 AM  
Anonymous Anonymous said...

Alvo fraco do juízo e mole de ser atingido, covardia!!
lindo dia
beijossssssssssss
Márcia(clarinha)

10:07 AM  
Anonymous Anonymous said...

Eu não sei se foi o sono, eu não sei se foi sua intenção, mas eu sei que eu li o texto todinho confundindo os personagens... tinha hora que eu não sabia se era ela ou se ela ele falando... valha... vou é dormir!

7:02 PM  
Anonymous Anonymous said...

Psicografou O anjo pornográfico, UM anjo pornográfico? Irretocável, como diz a Silvana Guimarães, quer vender?
Beijo da
Dinda

2:17 AM  

Post a Comment

<< Home