À luz da lua
Ele acordou deitado sobre as raízes de uma árvore. Olhou de relance ao seu redor e sentiu muito medo. Não fazia a mínima idéia de onde estava. Tudo que conseguia notar era a floresta, com uma grande lua branca iluminava as árvores de uma forma engraçada. Lembrou-se de que em sua casa havia um quadro com a mesma paisagem. Mas isso não valia de nada agora.
Ergueu-se limpando a terra das calças e suspirou fundo. Percebeu que a camisa estava rasgada. E suja de sangue. Tentou manter a calma e procurou lembrar-se como viera parar ali. Na sua mente corriam imagens esparsas. Viagem. Bar na beira da estrada. Mulher. A lua. As árvores passando muito rápido. Muito rápido. Sentiu-se tonto e encostou numa árvore próxima. De repente começou a entender. Bar. A mulher no bar.
***
Ela sorriu, tomando um grande gole da bebida paga pelo estranho. Com uma rápida olhada, fez uma análise das possibilidades: boas roupas, relógio caro. Vestia-se como um pastor. A mulher procurou fazê-lo beber mais. Talvez nem precisasse usar o comprimido. Seria bom. Estava ficando caro e era cada vez mais difícil comprá-lo sem receita. Perdeu suas esperanças quando o homem tomou a sua quinta cerveja e permaneceu ótimo. A chance surgiu quando ele levantou-se para ir ao banheiro. Ao passar por ela, deu-lhe um beijo no pescoço. A mulher sorriu mais uma vez e pegou discretamente o copo. Abriu a bolsa, tirou o remédio e o mergulhou de leve na bebida. Porcaria. Devia ter esmagado antes. A pílula azul sempre dissolvia com muita dificuldade na cerveja. Ele voltou rápido do banheiro e perguntou pelo copo. O remédio ainda não dissolvera por completo e desceu quase inteiro pela garganta do homem. Ela esfregou a alça da bolsa, assustada. Mas ele não sentiu nada. Talvez não fosse tão resistente ao álcool assim. Vamos. Vamos sair daqui.
***
Com a imagem da mulher rodando sua cabeça, o homem perdido passou as mãos nos bolsos traseiros da calça, em busca de sua carteira, de documentos. Nada. Só as roupas do corpo. De repente, tudo fez sentido. A mulher, o bar, o golpe. Mas ainda não sabia onde estava.
***
Estou meio tonto, acho que bebi um pouco demais. Tudo bem, eu posso dirigir se você quiser. Ele riu e pôs a mão dentro da blusa dela. Claro. Sem - vergonha. Ela dirigia apressada. Aonde você está indo? Calma, amor. Você vai adorar. Vou adorar. Ele repetia. Vou adorar. Me dá a minha bolsa. Claro.
A estrada estava muito bem iluminada. Pela lua. Grande e branca. Ele olhou a lua. Parou. Me dá a minha bolsa. O quê? A minha.
A estrada estava muito bem iluminada. Pela lua. Grande e branca. Ele olhou a lua. Parou. Me dá a minha bolsa. O quê? A minha.
Antes que a mulher tivesse tempo de terminar a frase, o homem subitamente começou a ofegar e tremer. Ela o olhou de relance e ainda teve tempo de ver a sua boa camisa de pastor rasgar-se antes de perder o controle do carro.
***
O homem perdido na floresta viu um carro passar velozmente pela estrada . O veículo perdeu o controle e bateu em uma árvore. Ouviram-se gritos. Correu. Talvez alguém precisasse de ajuda.
10 Comments:
Uau!
O velha máxima "o feitiço virou contra o feiticeiro" aí valeu.
Bom demais.
ótimo dia meu querido,
beijosssssssss
Ben, quem manda ter pinta de pastor? Dinda cada vez mais orgulhosa. Já encontrou com os priminhos? Beijo, muito beijo
eu gosto muito desse. principalmete por causa da camisa de pastor. irc! já imagino aquela coisa bem passada, cheia de botão e ensacada até a gola.
Em nova visita por aqui, entrando no conto, na beira da estrada, encontrando quem literalmente caiu no conto... E vendo o conto passar, bater, e enfim, o fim.
O guri tá virando um lobisomem escrevinhador, pô! Mutcho good, Márcio. Abração.
Sabia sim, mocinho. Já havia percebido. Às vezes o leitor imagina outras coisas.
Por exemplo, no meu post Sal, Céu, Cio,... o pessoal - além da decepção pelo personagem não ir comer a ex-mulher -, protestou pelo gosto deles por bacalhau, hehehe. Abração.
e tao lindo quando o obvio nao e nada obvio.. haha.
adorei a tecnica corrida... narrativa e dialogo tudo junto. sem travessao, sem nada...
excelente trama. otimo texto.
abracos
b.
E a lua estava lá como testemunha dos gritos perdidos... E dos pensamentos sombrios...
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