Verde, cor de cana
A capota amassada do velho Fiat Uno vermelho estava manchada de sangue. O corpo do menino, caído no chão. Morto. As marcas dos pneus sobre a pele branca.
-Você conseguiu, campeão! - berrava a mulher bêbada. Ele saiu do carro segurando-se na porta. Suas pernas tremiam.
Era mentira. Só podia ser mentira. Ele não matou ninguém.
-Cala a boca. Cala a boca. - era tudo que conseguia repetir.
-Você matou o menino.
-De onde ele saiu?
-Não importa.
-Pare com isso. Me ajude, vamos levar ele.
-Pra onde, seu idiota? Você não consegue ver que ele está morto? - seu choro arrebentou, impedindo a compreensão das últimas palavras.
-Chama alguém.
-Quem? São duas da manhã - ela já gritava abertamente - Não tem ninguém aqui perto. Só a porcaria desta linha de trem.
-Eu nem vi ele se aproximar. Surgiu do nada por cima do carro.
-Claro que não viu, você está bêbado. Você nunca prestou nem pra dirigir.
-Me ajuda a colocá-lo dentro do carro.
-Eu não vou tocar nele.
-Você quer ser presa? Eu não estava sozinho.
-Miserável.
-Pegue os pés. Vamos deixá-lo no canavial.
-Meu Deus, ele deve morar aqui perto. Deve ter família...
-Você acha que eu estou gostando disso? - ele a segurou pelo braço com força - Pois digo a você uma coisa: não estou! Agora me ajude a levá-lo para a plantação.Pegue os pés.
Os dois suspenderam o garoto. Mas estranharam. Ele pesava como três homens fortes.
-Eu não posso com ele.
-Claro que pode.
Levantaram com muito esforço e foram até o canavial. A lua iluminava toda a estrada. Deitaram o corpo perto dos pés de cana.
-Pronto. Agora vamos embora. E olha só: não aconteceu nada hoje. Esqueça esta história. Vai ser melhor pra nós dois. Ninguém viu nada.
-Nós vimos.
-Acho que posso viver com isso. Contanto que eu esteja solto. Vamos embora.
Saíram do canavial apressados. Ela parou de repente.
-Você ouviu?
-O quê?
-Eu não sei. Um barulho no mato.
-É o vento. Deixa disso. É a última coisa de que a gente precisa agora.
Um pequeno vulto correu em sua frente. Depois outro ao lado. E outros. Correndo e rindo.Crianças.
-Quem são estas...? Quem...Vamos embora daqui, vamos embora daqui, rápido, pelo amor de ...
A menorzinha surgiu de repente. Parecia flutuar de leve sobre o solo de massapé. Trazia um caderno na mão e uma boa dose de sangue escorria pela sua cabeça, de onde tinha sido arrancado parte do couro cabeludo.
-Você pode me ajudar, moça? Me ajudar a atravessar a linha do trem? Minha mãe não gosta que eu chegue em casa muito tarde.
A mulher gritou e correu, saindo do canavial. O apito do trem cortou o silêncio da noite. O sinal passou de verde para vermelho e baixou-se o bloqueio. Ela atravessou desesperada e não houve tempo de parar. O trem a atingiu com força.
O homem surgiu, cambaleante, de dentro da plantação de cana e tentou entrar no carro. Apesar da tremedeira, conseguiu abrir a porta e sentar-se no banco. Instintivamente ajustou o retrovisor.
Havia dois olhos de criança refletidos do banco de trás. Olhos de menino.
15 Comments:
Sacry Tales é pouco Ben. Caraio deu até um calafrio, mas eu não fugiria não. Show!
Scary Tales!
Nossa mamma mia, Márcio, o que você anda bebendo? Quero uns goles, pô!
Abraços.
Ui!!!
Baxô o Stephen King, saravá...oh darling, darling, stand by me....chocante, Benzinho
Muito bom, Márcio! Angustiante... "As crianças correndo"... Adorei essa visão! ;)
às vezes eu tenho raiva de você. principalmente qdo vc me faz medo.
Nossa, excelente seu texto, Márcio. Não o conheço mais sua forma de escrever é magnífica. Só um detalhe ... é o primeiro blog q entrei, acho q não vou ler outros, fiquei traumatizada. rs anapsantoss@bol.com.br
Valha...ele é logo é galado...rs
melhor estilo 'sexto sentido'...
good..
good..
gudi.
cara...
assisti um filme esses dias.. que ja tinha visto seculos atras.
um filme com o tim allen. que ele interpreta um ator decadente de um seriado tosco de ficcao cientifica (estilo jornada nas estrelas) que vai salvar um povo alienigena que acha que ele e 'o cara'...
haha...
numas, eles vao parar num planeta deserto, atras de uma pedra de niridio/iridio/ciridio/alguma-coisa e sao atacados por uns mostrinhos verdes... haha..
na hora lembrei desse conto...
medo!
b.
Cheguei a ouvir as criancinhas cantando,sabe aquela musiquinha de terror?pois é..essa mesmo..
Credo!tá virando especialista em arrepiar gente.
Genial!!
beijosssssssssss
Eita que ttá mais devagar que o TNN homi!
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