Monday, July 14, 2008

Dez Andares


- Meu Deus.
- Num é?
- Tão moça...
- Pois é.
- Foi agora?
- Nem cinco minutos.
- Tava passando aqui só ouvi o estrondo.
- Fasta aí, pessoal! Dá espaço, dá espaço!
- Abana a mosca.
- Caiu?
- Pulou.
- Era doida?
- Amor. Tá vendo a mão?
- Que é isso?
- Carta.
- Desafoga, pessoal! Dá espaço, dá espaço!
- Pra quê? Pra ela respirar?
- Ô brincadeira fora de hora...
- Ah, vai tomar no cu! Vou fazer o quê? Chorar?
- Devia!
- Nem conhecia!
- Dá pra ler assim não, puxa aí!
- Dá espaço, caralho!
- Eu não, puxa você.
- Era amor.
- Pra mim tem cara de doida.
- Fasta mais, fasta mais.
- Tá escorrendo aí, cuidado.
- Merda, melou o sapato.
- Não puxa! Deixa assim!
- Aqui, ó!Nome de homem!
- Amor.
- Nome de pai, nome de mãe...Irmãos?
- Deixa eu ver...Não, só mãe e pai.
- Não encosta, não encosta! Fastem mais! Desafoga!
- Saudade então.
- Essa mancha do sapato num vai sair nem fodendo. Que merda, comprei ontem essa bosta!
- Pra você aprender!
- Porra, saudade...
- Tão moça...
- Pra você ver.
- Devia ser bonita.
- Agora não dá mais pra saber.
- Se vocês não fastarem eu vou descer a porrada, bando de urubus!
-Fecha os olhos dela, cobre com jornal, sei lá.
- Eu não, fecha você. Eu que não toco. Já desgracei meu sapato novinho.
- E saudade mata?
- Pra você ver.
- Desafoga, bando de urubus!
- Saudade, veja só.
- Pra você ver.