Saturday, September 06, 2008

Linha de trem*



Diz que começou com o filho da dona da barraca de verdura, bem aqui em
frente. Foi pegar um carrinho, sei lá, e não ouviu o apito do bloqueio. A gente nem
sabia onde começava uma coisa e terminava outra. Coisa feia de se ver, mulher.
O povo jurava que o menino tava lá. Na casa. Tomando sopa e café, a comida toda
se esparramando pela garganta, Deus me perdoe.
Dia desses tomei coragem. Falei com ela. O menino só vi de costas, sentado na
mesa da cozinha. As linhas pretas e grossas mal costuradas juntando braços,
juntando pernas. Mas aceitei, no fim. Saudade é pior.

Daqui da janela dá pra ver que vem alguém. No fim da rua. Cambaleando que nem
criança. Reconheço o terno sim; todo furado de bala.
Vem, amor. Volta pra casa.

*A mais nova empreitada do terror. Terrorzine, o mais terríveil periódico de todos os tempos.
Por sua própria conta e risco.